Perda de Memória II – Ailton Tenório

Por em 13 de abril de 2020

Tem coisa pior do que procurar um arquivo, uma foto digital e não saber em que pasta do micro está, onde afinal a guardou? Tem! Saber exatamente onde está e não conseguir acessar, ler o arquivo.
Vou contar três casos verídicos que se relacionam com a “Perda da Memória Familiar”, tema de um antigo artigo que escrevi em 2004. Lá comentava como é importante imprimir em papel fotográfico as imagens armazenadas por método digital, pois a forma de fazer a leitura desses arquivos pode ficar obsoleta e sem você perceber pode não ter mais equipamentos para ler esses arquivos.
Com esses três casos verídicos, vou mostrar que perder os arquivos pode ser uma situação muito mais grave e frustrante!

Caso 1
Numa grande festa familiar, com várias gerações reunidas comemorando o aniversário da matriarca de mais de 90 anos, o bisneto foi documentar o evento com uma câmera digital Fuji S2. Como ele sabia que ia fazer dezenas de imagens, de cada participante e seus familiares, e todas em alta resolução, optou em usar o Microdrive de 1 Mb para ter capacidade de armazenamento quase ilimitado, em vez do cartão de memória Compact Flash de 256 Mb.
E assim ele fez durante a festa dezenas de fotos, de cada ramo familiar, cada integrante, retratando as gerações de toda a família. E, claro, foram se formando pedidos de cópias e mais cópias das fotos.
Entretanto, um dia após o evento, quando ele retirou o Microdrive da câmera para colocar no leitor do computador e baixar as imagens, este escapou da sua mão e acabou indo ao chão. Uma queda de menos de um metro. Simples e rápido assim, junto com a queda, foi perdido também toda a informação contida nele. O tranco afetou de maneira permanente o microdisco, destruindo todas as imagens da festa, perdendo para sempre o registro daquele evento único.

Caso 2
Um amigo tinha dezenas de vídeos caseiros que ele fez filmando com uma câmera Super VHS. Por anos ele filmou sua família e as viagens, mas com a popularização dos gravadores de DVDs ele achou que já era a hora de fazer um “upgrade nas mídias”.
Assim ele foi digitalizando horas e horas de fitas antigas, convertendo tudo para o padrão MPG, fazendo inclusive edições, menus e animações, finalizando numa gravação em DVD.
Perfeito, aí era só colocar no envelope e guardar o DVD. Só que o envelope estava mal colado e numa distração, o DVD passou direto pelo fundo caindo “de pé”.
Os DVDs, como os CDs, são de difícil quebra, mas uma coisa interessante aconteceu. A pancada deformou parte da resina que contem os dados, afetando permanentemente parte dos vídeos gravados, impossibilitando sua exibição.

Caso 3
Um diretor de arte, que tinha a fotografia como hobby e que passou anos fotografando com sua reflex, se aventurou no mundo da câmera digital. Foi difícil, mas se acostumou com as novidades do sistema digital. Entretanto, não queria perder o sistema de organização das fotos e negativos que há anos tinha realizado.
Depois de meses fotografando, conseguiu editar e separar umas 100 fotos “boas”, que mantinha guardada no HD de seu computador pessoal, que ficava em rede com outros micros onde trabalhava. Num dia, numa piscada de energia, algo afetou o sistema operacional.
Chamando a empresa que fazia manutenção nos equipamentos de informática, foi detectado que era melhor reinstalar o “Windows”, pois alguns arquivos do sistema estavam danificados. Horas depois, tudo funcionando, o técnico perguntou: “Podia formatar o HD, não é? Seus arquivos ficavam no servidor, certo?” Todos os arquivos pessoais foram perdidos na formatação do Disco Rígido.

Com esses “casos reais” não quero desestimular o uso das câmeras digitais, nem colocar medos no seu uso. Apenas quero lembrar que essa tecnologia é maravilhosa mas não é aprova de falhas, principalmente no aspecto de guarda e conservação dos arquivos digitais.
Quem nunca fez nenhum “back-up” de seus arquivos, é um sério candidato para o “Caso 4”. É só me escrever e contar como aconteceu a tragédia…

Ailton Tenório – Fotógrafo Publicitário
Consultor em Imagem Comercial e Professor de Fotografia Convencional e Digital
Utiliza equipamento digital a vários anos e imprime suas fotos em papel fotográfico.
Guarda seus arquivos digitais num HD e faz back-up em outro.